Relatório USP confirma: só 4 negros nos cursos mais disputados.
Perfil das dez carreiras mais concorridas da universidade é de alunos brancos, vindos de famílias com renda mensal acima de R$ 6,2 mil
Desigualdade no ensino persiste.
Praticamente metade dos alunos matriculados nos dez cursos mais concorridos da USP é de família de classe A (renda acima de R$ 12.440) ou B (acima de R$ 6.220). Dados do questionário socioeconômico da Fuvest, que realiza o vestibular da USP, mostram que os ingressantes de 2013 nessas carreiras são predominantemente brancos, de escolas particulares e com renda familiar superior a 10 salários mínimos mensais.
Essa faixa de renda representa 13,9% das famílias do Estado. Na USP, como um todo, chega a 32% a proporção de calouros de famílias mais abastadas.
Nesses dez cursos, só quatro pretos foram aprovados, além de 73 pardos - o que representa 10% das matrículas. A classificação é adotada pelo IBGE, que registra 35% de participação do grupo na população do Estado.
Entre as carreiras mais concorridas, Audiovisual tem 58,6% de alunos das
faixas de renda mais altas - e só 2,4% de alunos de famílias carentes, de até 3
salários mínimos. Além de ser uma das carreiras mais tradicionais, Direito
também está entre as mais elitistas. Mais de 40% dos ingressantes são de
famílias com renda acima de 15 salários mínimos - a maior proporção nesse
recorte.
O professor de Direito da USP Marcus Orione diz que uma maior heterogeneidade
seria positiva. "Não tenho dúvida de que temos uma unidade elitista e isso é um
pouco o desenho histórico do País. Se tivéssemos perfil mais plural, teríamos,
por exemplo, outras aproximações aos temas de estudo."
Cotas. A divulgação ocorre ao mesmo tempo em que são debatidas cotas na USP.
Lançado pelo governo e por reitores das três estaduais, o Programa de Inclusão
com Mérito no Ensino Superior Paulista (Pimesp) deve ser votado na universidade
neste semestre. O Pimesp não contempla metas por renda e só prevê benefício a
estudantes de escola pública, além de pretos, pardos e indígenas.
A atual política da USP, que dá bônus no vestibular a alunos de escola
pública, independentemente de raça e renda, não conseguiu ampliar efetivamente
seus números. Entre 2012 e 2013, o porcentual de alunos de escola pública passou
de 28% para 28,5%. Levando em conta apenas as dez carreiras mais concorridas, só
19% dos matriculados eram da rede pública. Os piores resultados estão no
interior: Administração da USP de Ribeirão Preto teve 5,88% de matrículas da
escola pública. Depois aparece Engenharia Civil de São Carlos, com 7,94%.
Exceção. O calouro Paulo Sérgio Junior, de 17 anos, é uma exceção. Foi um dos
12 alunos da rede pública aprovados em Economia e Controladoria na USP Ribeirão.
"Por ser do interior, tenho um contato maior com o professor, que incentiva
mais", diz ele, que é de Dourado, no interior, e não fez cursinho.
O presidente da ONG Educafro, Frei David, se disse preocupado. "Se a USP não
tiver a capacidade de rever sua meritocracia injusta, o movimento social vai ter
de radicalizar."
Frei Davi antevê o inevitável: a situação sempre foi crítica e nos tempos atuais de rápida circulação de informações, onde é dificílimo camuflar e esconder fatos e dados, torna-se insustentável.
O ensino é universal, é inadmissível que ainda no século XXI permaneça um gueto reservado à quem pôde pagar pela melhor preparação.
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