Comunidade Brasil

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sábado, 4 de maio de 2013

Relatório USP confirma: só 4 negros nos cursos  mais disputados.

Perfil das dez carreiras mais concorridas da universidade é de alunos brancos, vindos de famílias com renda mensal acima de R$ 6,2 mil

Desigualdade no ensino persiste.


Praticamente metade dos alunos matriculados nos dez cursos mais concorridos da USP é de família de classe A (renda acima de R$ 12.440) ou B (acima de R$ 6.220). Dados do questionário socioeconômico da Fuvest, que realiza o vestibular da USP, mostram que os ingressantes de 2013 nessas carreiras são predominantemente brancos, de escolas particulares e com renda familiar superior a 10 salários mínimos mensais.

Essa faixa de renda representa 13,9% das famílias do Estado. Na USP, como um todo, chega a 32% a proporção de calouros de famílias mais abastadas.

Nesses dez cursos, só quatro pretos foram aprovados, além de 73 pardos - o que representa 10% das matrículas. A classificação é adotada pelo IBGE, que registra 35% de participação do grupo na população do Estado.

Entre as carreiras mais concorridas, Audiovisual tem 58,6% de alunos das faixas de renda mais altas - e só 2,4% de alunos de famílias carentes, de até 3 salários mínimos. Além de ser uma das carreiras mais tradicionais, Direito também está entre as mais elitistas. Mais de 40% dos ingressantes são de famílias com renda acima de 15 salários mínimos - a maior proporção nesse recorte.

O professor de Direito da USP Marcus Orione diz que uma maior heterogeneidade seria positiva. "Não tenho dúvida de que temos uma unidade elitista e isso é um pouco o desenho histórico do País. Se tivéssemos perfil mais plural, teríamos, por exemplo, outras aproximações aos temas de estudo."
Cotas. A divulgação ocorre ao mesmo tempo em que são debatidas cotas na USP. Lançado pelo governo e por reitores das três estaduais, o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Paulista (Pimesp) deve ser votado na universidade neste semestre. O Pimesp não contempla metas por renda e só prevê benefício a estudantes de escola pública, além de pretos, pardos e indígenas.
A atual política da USP, que dá bônus no vestibular a alunos de escola pública, independentemente de raça e renda, não conseguiu ampliar efetivamente seus números. Entre 2012 e 2013, o porcentual de alunos de escola pública passou de 28% para 28,5%. Levando em conta apenas as dez carreiras mais concorridas, só 19% dos matriculados eram da rede pública. Os piores resultados estão no interior: Administração da USP de Ribeirão Preto teve 5,88% de matrículas da escola pública. Depois aparece Engenharia Civil de São Carlos, com 7,94%.

Exceção. O calouro Paulo Sérgio Junior, de 17 anos, é uma exceção. Foi um dos 12 alunos da rede pública aprovados em Economia e Controladoria na USP Ribeirão. "Por ser do interior, tenho um contato maior com o professor, que incentiva mais", diz ele, que é de Dourado, no interior, e não fez cursinho.

O presidente da ONG Educafro, Frei David, se disse preocupado. "Se a USP não tiver a capacidade de rever sua meritocracia injusta, o movimento social vai ter de radicalizar."

Frei Davi antevê o inevitável: a situação sempre foi crítica e nos tempos atuais de rápida circulação de informações, onde é dificílimo camuflar e esconder fatos e dados, torna-se insustentável.

O ensino é universal, é inadmissível que ainda no século XXI permaneça um gueto reservado à quem pôde pagar pela melhor preparação.



 

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